O susto do susto da Virada – seguimos tentando

Fiquei assustada com o susto das pessoas em relação à Virada Cultural desse ano. Estive no evento, não vi nada de anormal. Soube de gente que viu o arrastão e desistiu do domingo, diz que foi tenso. Mas soube de gente, muita gente, que não foi pro Centro pra não ser assaltado. Como se ir pro centro significasse necessariamente sofrer algum tipo de assédio. Minha mãe completou: e como se fora da Virada a gente não corresse o risco igual.

Sou defensora da Virada uma vez por ano (ao contrário dos que pedem que a verba seja diluída pelo ano todo), e sou defensora do evento concentrado no Centro. Gosto da ideia de muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo, da indecisão deliciosa de um ou outro show (nesse ano um melhor que o outro). Gosto da ideia de encontrar, em um mesmo lugar, gente de todo tipo: quem vai pro funk batidão, quem vai pro rock, quem dança forró. Gente de todo o Brasil vindo pra ver gente de todo Brasil tocar em homenagem à cidade. E o mais bonito de tudo: ocupando o Centro. Ocupar São Paulo, o que nos dias normais não podemos ― justamente por insegurança.

Acho que a Virada, com o passar dos anos, virou o nosso carnaval. De rua. Mas São Paulo ainda tem muito o que aprender em relação a eventos de rua ― quanto mais aos grandes eventos de rua. Esse ano não vi nada de anormal, mas evitei a madrugada. Nos outros anos reparei que o clima cai muito, a energia que devia ser pros shows fica em tomar porre e cair pela sarjeta e o clima geral é baixo astral. Ano passado ― ou foi no retrasado? ―, particularmente, ao andar pelo centro de madrugada senti total insegurança, que nesse ano tentei evitar.

Podíamos tomar como exemplo a segurança do carnaval de Salvador (também concentrado), onde cada bloco e cada show tem um estande de policiais supervisionando a multidão. É preciso foco especialmente no caminho entre os palcos ― e guardas montadas entre os palcos e junto aos palcos. Só que lá eles tem 60 anos de trio pra sacar como fazer a segurança… O que não podemos é jogar no lixo o evento mais bonito que nos foi oferecido. “Não vou porque é inseguro. Vou pro Sesc…” e a cidade volta a ser ocupada pelo que não lhe representa.

No domingo, presenciamos um momento imperdível que foi a homenagem a Paulo Vanzolini (não à toa um ícone da cidade) que nos deixou há 20 dias. Sem tom de tristeza ou lamento, o clima foi de homenagem e celebração, como a Virada como um todo deve ser. São 4 milhões de pessoas. Assaltos, duas mortes, mas quatro milhões de pessoas. Não é pouco, e nem a virada pode ser resumida aos assaltos e mortes. Se fosse pra sair na rua pra ser assaltada, também eu não sairia ― a Virada foi, e é, muito mais.

Mais interpretações sobre o assunto: Quando a apuração tendenciosa é evidente | Valter Hugo Muniz
Do site oficial da Virada Cultural 2013: Virada 2013: os problemas & as soluções | Pedro Alexandre Sanches