* esse texto não é uma crítica de “O som ao redor”
“O Som ao Redor” não é um filme sobre o Recife, mas é também. É daí que vem a sua beleza, a sua força e a contundência de sua crítica. É um filme que fala de todos nós, do excesso de grades, da urbanização desenfreada – do medo da classe média e da nossa elite, da convivência em bairro e da grana que ergue. Podia ser sobre São Paulo ou sobre Salvador. Mas também não podia. É um filme contemporâneo, sobre questões contemporâneas de presente e de memória, situado (e muito bem situado) na cidade de seu realizador, Kleber Mendonça Filho.
Não achei nada de menos de “O Som ao Redor”. Nem demais. Não entendi (ou entendi bem demais) a onda de comentários sobre o filme: imperdível, maravilhoso, “um dos melhores filmes feitos recentemente no mundo” (como disse Caetano em comentário no O Globo de título “Belo é o Recife”)… É um filme em que a atuação peca pela falta, não pelo excesso – e isso é um grande, um enormessíssimo mérito. Isso traz beleza. Mas é só.
Em uma cinematografia dominada pela necessidade de sistematização, padronização, estetização (com o Estado discutindo o que é comercial…), concordo que o filme é um respiro. Justo no Brasil, onde vivemos nos perguntando por que o cinema daqui não é igual ao cinema da Argentina – porque o cinema da Argentina fala de lá, com o jeito de lá. Em outras palavras: verdade.
O Brasil tem tanta falta de verdade nos seus filmes que um filme que se mostrou verdadeiro gerou suspiros entre críticos e público. Realmente, o Brasil precisa parar de tentar fazer certo, e começar a fazer bem. De tudo, “O Som ao Redor” deixa essa lição para o cinema nacional: que na nossa tragédia e comédia, é belo o Brasil.