Quem for a São João Del-Rey – MG não pode deixar de visitar o Memorial Tancredo Neves, ali pertinho da igreja de São Francisco de Assis. Entre objetos e fotos do ex-presidente, conta-se um tanto da história do Brasil. Somam-se aos objetos vídeos com imagens emocionantes das Diretas Já e da vigília que se seguiu à tomada de posse (contaram-se daí 38 dias até sua morte, dando lugar ao vice José Sarney) – recomendado aos fracos para emoções, como eu, que saem com lágrimas entre a esperança e o luto, de um Brasil que poderia ter sido e que não foi. À saída do Memorial, o simpático Tancredo, ele próprio, sentado em um banco – só que em bronze – recebe sorridente os visitantes. Curiosamente, as pontas de seus sapatos e o nariz estão desgastados de tanto serem tocados.
Entre Salvador e Minas Gerais, visitei Jorge Amado, Tancredo Neves e o poetinha. Vinicius, velho, Saravá! Sempre achei essas estátuas meio indignas (não me venham com fotos com o Drummond!), mas agora estão elas a se proliferar. É um novo conceito: as pessoas se identificam com o monumento, e os homenageados podem ir direto para o instagram. No Rio de Janeiro, certa vez vi uma senhora dizer “E aí Caymmi!” ao passar pela estátua à orla da praia em Copacabana, batendo-lhe cordialmente na mão erguida. Caymmi ficou – mão erguida no ar, sorriso no rosto, eternizado no cumprimento.
A estátua de Jorge Amado, inaugurada dezembro passado em Salvador traz, além dele e de Zélia Gattai, o cachorrinho pug do casal (que mereceu homenagem em bronze) entre o acarajé de Dinha e a vista para o mar do Rio Vermelho: dá mesmo vontade de sentar para prosear. Confesso que eu mesma me maravilhei quando, ao chegar à biblioteca municipal de Belo Horizonte (ano passado, tendo visitado pela primeira vez a cidade) dei de cara com o Fernando Sabino, rodeado por seus companheiros Otto Lara Resende, Hélio Pellegrino e Paulo Mendes Campos. Encheram-me os olhos, reforçando minha visão romântica de que tudo na cidade conversa com a obra dele. (E conversa.)
Mas em termos de estátuas a mais digna é sem dúvida a de Vinicius de Moraes, que tive a chance de visitar perto da praia de Itapuã: a cadeira de bronze está lá, ao seu lado, mas o poetinha já avisa com o olhar que não quer que ninguém sente pra posar pra foto.
E saiam já da minha praça!