Ouro Preto é um mistério. Andar por lá é se perder – geográfica e sentimentalmente, em uma cidade mágica, feita entre ladeiras e pedras, equilibrada apenas pela imponência estonteante de suas igrejas. Uma das inúmeras vezes em que me perdi por entre seus sinos e ladeiras, encontrei uma mulher de Uberlândia que vive há 20 anos na cidade e disse que até hoje não consegue entendê-la.
Ouro Preto é assim, você desce uma ladeirinha pra ver o que tem ali e o resto da vida é só subida. E a outra coisa é que você vê uma igreja láaaa longe, aí vai seguindo, vai seguindo na direção dela, vai seguindo… e quando chega, ela mudou de lugar! Mariana, a cidade vizinha, é de uma beleza mapeável e talvez só por isso não tão bonita. Tem como maior trunfo um céu de tom inigualável no mundo (não se sabe, por lá, o que acontece – faz parte do clima de mistério mineiro, de certo). Pois vivo eu num namoro entre São Paulo e Minas Gerais, cercado das montanhas e desses mistérios.
Ia embora triste, nessa última visita, segurando o choro nas horas finais antes da despedida. O ponto na “Lanchonete Du Ponto” (a bem da verdade quase um bar) me levaria de Mariana a Ouro Preto, e dali de volta para São Paulo. Na lanchonete se vende passe, os ônibus passam e a vida passa sem dó. (de Mariana a Ouro Preto a tarifa aumentou e o passe diminuiu! No bilhete vem escrito: “Vale Transporte Ouro Preto à Mariana & vice versa” (sic)!) Paramos no ponto, eu e meu bem – quando o dono do bar coloca bem alto nos alto falantes um Roberto Carlos: “De que vale tudo isso, se você não está aqui”… Nos tecladinhos tenros até semáforo, rua, montanha, nós, tudo, parecia dançar. Não contive o choro.
Depois da música não colocou mais nada, o dono do bar.