Quando estava no segundo colegial, fui a um debate do Serra na minha escola − o Colégio Bandeirantes, cheia de panfletos dizendo que escola não era lugar para partidarismos. Um dos diretores me puxou pelo braço, disse que eu não podia estar ali (o que era mentira, o evento era aberto e me receberam com sorrisos e adesivos do candidato antes de verem os panfletos) e que tinha ligado pessoalmente para o diretor-presidente marcando uma reunião comigo. Saí arrasada, comecei a chorar no corredor. Fui levada a uma sala, com a presença de dois funcionários do departamento “cultural”, onde desabafei entre soluços que ia ser melhor assim, que poderia então falar tudo o que pensava para o diretor-presidente − antes de perceber que o outro diretor não tinha anotado meu nome, turma, nada! E que obviamente a reunião era fictícia.
Fiz contatos mais próximos e marquei eu mesma a reunião, à qual compareci com os panfletos debaixo do braço, e fui recebida com os panfletos já na mesa pelo diretor-presidente e pelo diretor pedagógico (que bom, vi que já receberam…). Tivemos uma conversa séria e objetiva. Falaram sobre as minhas notas (já tinham puxado meu histórico, que sempre foi impecável), comentaram amigavelmente minhas notas baixas em matemática e pudemos rir sobre como eu não entendo álgebra. Expus que a violência à qual eu fui submetida seria aceitável vinda de uma pessoa ignorante, mas nunca de um dos diretores da escola – único momento da reunião inteira em que o sorriso saiu da cara dos dois.
A justificativa para eu ter sido tirada de lá? (lembro até hoje das palavras, exatas, vindas do mesmo diretor): a minha segurança.
Tenho uma relação muito amigável com os funcionários e professores de lá, e alguma admiração pelo formato das aulas, embora tenha muitas ressalvas sobre o sistema de ensino. Mas sempre fui categórica em que não quero meus filhos lá, para espanto da maioria dos meus amigos. O meu ideal de escola é uma que aplauda atitudes tão maravilhosas como um grupo de alunos que se solidariza com a causa de um, e não uma que isole essa atitude.
Deixar ou não o aluno ir de saia não tem a ver com a escola deixar, no dia a dia, cada aluno vestir a roupa que quer. Aliás, tem pouco ou nada a ver com roupas. Isso tem a ver com uma escola que acha que tem que limitar os alunos, porque “o mundo é assim”.
Tudo isso pra dizer: obrigada, Antonio Prata. (“Entre ou saia”/ Folha de S. Paulo).