Garcia, o farmacêutico

Cheguei à farmácia, sem escova de dentes nem pasta. Deixei na casa de um amigo, antes de sair do Rio – a escova mandei jogar fora, a pasta dei de presente.

“Oh, minha querida, você está boa?”, era o homem de jaleco. Não tive tempo nem de responder “tudo bem”. “A sua família, tá todo mundo bem?”

― Acho que o senhor me confundiu com alguém!
― Confundi nada! Você não estuda aqui?
― Não, nunca nem estudei. To vindo é morar aqui mesmo. Vim ver casa aqui no bairro…

Nessa hora ele gritou pro cliente ao lado: “Ô João! Em que que a gente pode ajudar essa moça aqui? Ela tá procurando casa pra alugar!”
O João se aproximou e falou que claro, a do Márcio Luz. O farmacêutico de jaleco puxou debaixo do balcão um livrão imenso com os nomes dos clientes. “Márcio Luz, Márcio Luz…”. Aqui, anota aí.
Anotei.

― Em que mais eu posso te ajudar?
― Escova e pasta de dente.

Fez um embrulhozinho mais caprichado do mundo.

― Em que mais?
― Só isso mesmo.

Saiu de trás do balcão, pegou minha mão entre as suas, em um movimento rápido de cumprimento.

― Eu sou Garcia, o farmacêutico.

Disse assim com essa pausa da vírgula. Depois me olhou bem nos olhos e profetizou:
― Que ocê seje muito feliz!