Hollywood não é aqui

“Pequeno Segredo” foi revelado como a escolha do Brasil para a disputa do Oscar de melhor filme estrangeiro. Para além de ter desbancado o favorito – e belíssimo – “Aquarius”,  o filme indicado só vai estrear em 10 de novembro, o que o colocaria fora da competição e apto à competição do ano que vem. Ele se valeu de um detalhe técnico, anunciando uma pré-estreia antes de 30 de setembro para poder participar. Que aliás, segundo matéria do UOL, nem data marcada tem. Como validar um filme sem carreira em festivais e que, como não estreou, não tem termômetro de crítica ou público no Brasil, como o representante do país?

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O trailer revela uma estética publicitária, mais próxima de filmes estrangeiros, mas não dos que concorrem a filme estrangeiro no prêmio da Academia. O que é reforçado por parte do elenco ser de fora e grande parte do filme ser falada em inglês. E não é só o elenco: parte da equipe, entre cargos altos de direção e cargos menores de assistência é assumida por estrangeiros (o que vocês podem checar aqui, na sua página do imdb). Uma aposta para internacionalizá-lo – mas que diz muito sobre a valorização (ou não valorização) de um mercado que a muito custo se faz ouvir.

O que mais choca não é o deferimento de “Aquarius”, preferido para disputa, filme pungente e que, em tantos níveis (inclusive o artístico), escancara nas telas o Brasil. Mas sim os argumentos usados pelo comitê para selecionar o “Pequeno Segredo”. Pego as informações seguintes de uma matéria do G1, de 12 de setembro de 2016. As falas de seus membros são desoladoras:

Segundo Luiz Alberto Rodrigues “A gente considerou essa hipótese: que filme teria maior potencial para seduzir o júri da Academia a escolher como concorrente a filme de língua estrangeira?” Marcos Petrucelli, o pivô da discussão de legitimidade do comitê – frente a críticas que fez à manifestação política da equipe de “Aquarius” em Cannes – foi além: “A gente tentou encontrar um filme que tem essas características do cinema ‘da cartilha'”.

Declaradamente escolheram um filme que reproduz a estética de fora em detrimento do cinema que escancara o Brasil. Critério dúbio, já que não é essa a característica que a Academia valoriza nos filmes estrangeiros. Ou alguém acha que Almodóvar é indicado por reproduzir quase fielmente a estética hollywoodiana? Se acham que ele tem potencial para ser equiparado aos filmes norte-americanos – inclusive em equipe e estética –, há outros caminhos. Como estrear em circuito comercial de lá (uma semana em cartaz na região de Los Angeles já garante essa possibilidade) e concorrer de igual pra igual nas demais categorias.

Enquanto não valorizarem o cinema brasileiro como aquele que reproduz essencialmente as histórias e a estética nacional, com todas as suas falhas e percalços – que sabemos tanto que não são poucos, quanto que estão sendo vencidos com incentivo e muito suor nos últimos anos –, ele estará sempre assim. A um passo de ser desbancado.